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“Estás diferente, não sei se gosto disso.”
Ele deve de saber, namorou comigo e aturou-me durante mais de um ano. Passou
pela minha fase de menina, há dois anos, quando eu estava destroçada e tentou
acompanhar a minha fase de mulher, quando tudo o que eu queria era a minha
própria pessoa – quando já não encaixávamos.
No final, já só via o pior de mim, o insuportável e insubordinado egoísmo – e
não era ele que o provocava, era eu – e a minha súbita ânsia de espaço para ser
só eu.
Terminámos, já desgastados – foi a primeira vez que fui uma pessoa “má” para
uma pessoa “boa”.
Não fiquei solteira muito tempo depois disso, nunca foi coisa minha – mas os 2
meses em que estive sozinha, foram mais do que suficientes para fazer de mim
uma pessoa melhor, mais feliz e mais crescida.
Quando ele me disse que estava diferente, não o neguei, expliquei até que mudei
para melhor, que corrigi muito daquilo que fazia de mim meio insuportável – e
ele acenou, meio dúbio.
No final, aquela conversa deixou um gostinho amargo de dúvidas na minha cabeça
– afinal eu achava-me óptima, mesmo quando ainda estava com ele, achava que
estava frequentemente certa e cheia de razão, gostava até daquele olhar meio
arrogante que me permitia exibir de vez em quando e que não me lembrava de ter
desaparecido. E realmente, se já não sou tanto assim, é porque deveria de ter
perdido algo pelo caminho. Tive de pensar nisso durante uns dias e com calma,
afinal ainda sou muito daquilo, cheia de amor-próprio e de certezas – acho é que
assimilei outros princípios básicos. Interiorizei que se não temos nada de
simpático para dizer, podemos até ficar calados. Aprendi que segurar a minha
língua por poucas horas que seja, evita muito veneno – porque sabe Deus que eu
era venenosa nas palavras. E que nem tudo tem de ser feito a minha maneira, mas
que eu posso acrescentar algo discretamente – aprendi o discretamente.
Pratiquei o Ser Feliz, porque realmente só depende de mim e não tanto do sol,
da companhia ou do dia da semana.
Comecei a aplicar a simpatia e ele determinou que eu estava diferente – o que dirá
isso sobre o que ele aturou?!Obrigado J., pela paciência.
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